A Capela de Nossa Senhora da Conceição é uma das mais belas obras do Renascimento europeu, caracterizando-se por uma grande pureza de linhas clássicas, numa conjugação de rara proporcionalidade e harmonia, erigida sob o mecenato de D. João III, traçada por João de Castilho, continuada pelo arquitecto Diogo Torralva e concluída no seu coroamento por Filipe Terzi, c.1561.
A arquitectura concilia a ideia «pagã» de templo no exterior, interpretada ao modo cristão pelos humanistas do Renascimento.
O exterior de pedra amarelada da região é de uma grande simplicidade, um frontão triangular acompanha a fachada principal, abrindo, no tímpano, um óculo incompleto. O portal é desprovido de ornamentos, com uma porta de verga horizontal, emoldurada em perfis simples e com duas janelas simétricas, de ombreiras perspectivadas em ponto de fuga central; o transepto encontra-se ligeiramente saliente nas fachadas laterais e é encimado por frontões triangulares.
O interior desenha um espaço harmonioso com um apurado sentido da proporção e da medida, é de planta rectangular, lembra soluções já encontradas no Convento de Cristo, nomeadamente a original forma de combinar a coluna, arquitrave e abóbada de caixotões e a estrutura modelar dos edifícios.
A capela-mor arredonda a superfície de topo e cobre-se com um concheado simples e elegante. O transepto tem uma cúpula no cruzeiro em barrete de clérigo e nos cantos apresenta mascarões, que provavelmente representam os quatro rios do Éden.
À harmonia vem associar-se a carga simbólica que deriva da própria organização espacial e da ornamentação de capitéis e mísulas cuja ornamentação classicizante é passível duma leitura humanístico-cristã que tem a ver com a prevista função do edifício: ser mausoléu de D. João III e da família real. El-rei escolheu para a sua última morada o lugar reservado aos príncipes, entre a cidade de Deus (Convento) e a cidade terrena (vila de Tomar).
A principal fonte utilizada pelo arquitecto régio foi a edição de Cesariano, com ilustrações da obra, mas também há fontes clássicas, como gravuras baseadas na tratadística vitruviana, de um purismo antiquizante.
Amélia Casanova
(Historiadora de arte)